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domingo, 23 de dezembro de 2012

Nós marchamos

Saharauis, Zapatistas e  Indígenas, eles marcham, nós marchamos. 

Se o mundo não acabou, pelo menos marchamos....

E que assim seja marchamos!

Foto de Rogério Ferrari
Imagem recebida em 22 de dezembro de 2012, autor desconhecido
Imagem de Larissa Ramina: Guarani Kaiowá, a tragédia anunciada

" Quando me desespero, eu me lembro que durante toda a história o caminho da verdade e do amor sempre ganharam. Tem existido tiranos e assassinos e por um tempo eles parecem invencíveis, mas no final, eles sempre caem." 
Mahatma Gandhi


E, lá se vai 2012...
E, aqui vem mais um inocente desejo que tudo mude pra melhor, que as mudanças cheguem.
O mundo não acabou (ainda), mas quem sabe esse seja o fim de um ciclo de intolerância mesquinha, de falta de abrigo e paz.

Termino com a maravilhosa noticia e imagens recebidas ontem:

"Neste dia 21/12/2012, enquanto o mundo brincava de apocalipse, os verdadeiros descendentes dos maias, vivos e reais, nos mandaram das montanhas de Chiapas uma importante mensagem, que surpreendeu o México hoje de manhã. Em diferentes municípios da região Sudeste, milhares de indígenas integrantes do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) iniciaram o dia em grandes marchas por diferentes estradas e cidades. A manifestação, organizada até a véspera em sigilo, foi pacífica e surpreendentemente silenciosa. Em todas as marchas, o silêncio foi absoluto. Nenhuma palavra de ordem, nenhum cântico, nenhum grito de protesto. Ao final do dia finalmente foi divulgado um comunicado oficial do líder máximo do EZLN, Subcomandante Marcus, dizendo apenas: “Escutaram? É o som do mundo de vocês desmoronando. E do nosso ressurgindo”. Como sabemos, os maias nunca falaram em “fim do mundo” (tampouco jamais conceberam essa ideia). Ao contrário, em um gigantesco silêncio, nos disseram hoje que um mundo novo, uma nova era, está começando. E que os ideais zapatistas estão de volta."



terça-feira, 23 de outubro de 2012

Do lado de lá, do lado de cá, qual a diferença? Indígenas, Saharauis, Curdos, estão todos morrendo, estão todos delimitados, expulsos, aprisionados... Ei, até quando os primeiros habitantes dessa terra precisam pedir/implorar para permanecerem vivos com dignidade?




Carta da comunidade Guarani-Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay-Iguatemi-MS para o Governo e Justiça do Brasil. 
Nós (50 homens, 50 mulheres e 70 crianças) comunidades Guarani-Kaiowá originárias de tekoha Pyelito kue/Mbrakay, viemos através desta carta apresentar a nossa situação histórica e decisão definitiva diante de da ordem de despacho expressado pela Justiça Federal de Navirai-MS, conforme o processo nº 0000032-87.2012.4.03.6006, do dia 29 de setembro de 2012. Recebemos a informação de que nossa comunidade logo será atacada, violentada e expulsa da margem do rio pela própria Justiça Federal, de Navirai-MS. Assim, fica evidente para nós, que a própria ação da Justiça Federal gera e aumenta as violências contra as nossas vidas, ignorando os nossos direitos de sobreviver à margem do rio Hovy e próximo de nosso território tradicional Pyelito Kue/Mbarakay. Entendemos claramente que esta decisão da Justiça Federal de Navirai-MS é parte da ação de genocídio e extermínio histórico ao povo indígena, nativo e autóctone do Mato Grosso do Sul, isto é, a própria ação da Justiça Federal está violentando e exterminado e as nossas vidas. Queremos deixar evidente ao Governo e Justiça Federal que por fim, já perdemos a esperança de sobreviver dignamente e sem violência em nosso território antigo, não acreditamos mais na Justiça brasileira. A quem vamos denunciar as violências praticadas contra nossas vidas? Para qual Justiça do Brasil? Se a própria Justiça Federal está gerando e alimentando violências contra nós. Nós já avaliamos a nossa situação atual e concluímos que vamos morrer todos mesmo em pouco tempo, não temos e nem teremos perspectiva de vida digna e justa tanto aqui na margem do rio quanto longe daqui. Estamos aqui acampados a 50 metros do rio Hovy onde já ocorreram quatro mortes, sendo duas por meio de suicídio e duas em decorrência de espancamento e tortura de pistoleiros das fazendas. Moramos na margem do rio Hovy há mais de um ano e estamos sem nenhuma assistência, isolados, cercado de pistoleiros e resistimos até hoje. Comemos comida uma vez por dia. Passamos tudo isso para recuperar o nosso território antigo Pyleito Kue/Mbarakay. De fato, sabemos muito bem que no centro desse nosso território antigo estão enterrados vários os nossos avôs, avós, bisavôs e bisavós, ali estão os cemitérios de todos nossos antepassados. Cientes desse fato histórico, nós já vamos e queremos ser mortos e enterrados junto aos nossos antepassados aqui mesmo onde estamos hoje, por isso, pedimos ao Governo e Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas solicitamos para decretar a nossa morte coletiva e para enterrar nós todos aqui. Pedimos, de uma vez por todas, para decretar a nossa dizimação e extinção total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar os nossos corpos. Esse é nosso pedido aos juízes federais. Já aguardamos esta decisão da Justiça Federal. Decretem a nossa morte coletiva Guarani e Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay e enterrem-nos aqui. Visto que decidimos integralmente a não sairmos daqui com vida e nem mortos. Sabemos que não temos mais chance em sobreviver dignamente aqui em nosso território antigo, já sofremos muito e estamos todos massacrados e morrendo em ritmo acelerado. Sabemos que seremos expulsos daqui da margem do rio pela Justiça, porém não vamos sair da margem do rio. Como um povo nativo e indígena histórico, decidimos meramente em sermos mortos coletivamente aqui. Não temos outra opção esta é a nossa última decisão unânime diante do despacho da Justiça Federal de Navirai-MS. 

Atenciosamente, 
Guarani-Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay




segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Um encontro

É certo que o projeto Exílius ao longo desses 5 anos sobrevive e resiste dos acasos e encontros com grupos e pessoas que, de alguma forma, compartilham a inquietação de nossa sútil resistência em Front(eiras).
Não dessas fronteiras castradoras que nos impede de ver o outro como semelhante a nós mesmos. Não essa fronteira que cria barreiras e destrói identidades, mas sim dessas fronteiras permeáveis, repletas de linhas de fuga, com desejo de romper com a distância e com a indiferença, que reconhece e respeita a identidade de um grupo.

Hoje, por subjetividades, por impulso, por forças que nos guiam para conhecer alguém 'quase sem querer' e por razões que a própria razão não compreende (por mais paradoxal que isso possa parecer) tive a honra e o prazer de conhecer ao vivo e a cores, o fotógrafo "Rogério Ferrari":

Saara Ocidental/ Saarauí/ Foto de Rogério Ferrari
A admiração por suas fotos já existia desde o instante que, por acaso,  encontrei-o pelo mundo virtual.
Em seu site "existências resistências", encontramos a seguinte frase:

"Uma fotografia é algo que nos pega pela mão e nos diz “venha ver”. 
O problema não é somente o que nos leva a ver, e sim, sobretudo, a forma como nos leva a ver. Se na outra mão da fotografia vão a verdade e o afã de justiça, então vale a pena viagem."

Essa frase sempre ecoou junto a mim, atriz, pesquisadora, em busca de resposta, toda vez que me perguntavam o porquê eu havia escolhido ir pro outro lado do oceano, trabalhar com crianças saharauis, se, aqui no Brasil, existem tantas outras crianças, que precisam de tanto trabalho quanto lá.
A resposta nunca encontrei sozinha. A 'pena' de uma viagem talvez tenha vindo com a resposta do Rogério.
Talvez, porque quando nos deparamos com o outro, quando olhamos profundamente e compartilhamos a história do outro, ela passa a fazer parte de nós mesmos.
Talvez, porque o nosso mundo se reflete nos olhos de quem nos olha.
É assim, além dos idiomas, dialetos, cores, dores, somos todos em algum momento um só, refletindo e sendo refletidos, necessitando do outro pra termos parâmetros de nós mesmos. 

Saara Ocidental/Saarauí/ Rogério Ferrari

Voltando de São Paulo, no ônibus, leio no livro de Rogério, "Curdos uma nação esquecida":

"A Fotografia e o fotógrafo podem ir além da luz e das sombras. Uma posição em defesa da vida e de uma sociedade justa deve transcender e superar o risco da arte como panfleto. Longe disso, o fotógrafo ou o gari, cada qual no seu fazer, não devem tergiversar sobre a necessidade de refletir e atuar sobre o seu tempo. Se o tempo é de barbárie, pois, como negligenciar isso? Constatar o tamanho das injustiças não significa admiti-las como inevitáveis. Em um tempo de conceitos e interesses escusos é preciso ver claro. De que forma, portanto, a pergunta será respondida para que não continuemos sob essa tragédia pessoal e global? O que significa protestar contra o sofrimento, como algo distinto de reconhecer sua existência? Urge romper a inércia e despir-nos da apatia que vestimos a cada manhã."

Pronto, de repente, ele novamente conversa comigo, além de suas imagens.

E pra quem não conhece, segue os links do trabalho do Rogério:
http://rogerioferrari.wordpress.com/
http://www.flickr.com/photos/rogerioferrari


Rogério Ferrari trabalha como fotógrafo independente desenvolvendo o projeto Existências-Resistências, tema que retrata a luta por terra e autodeterminação de alguns povos e movimentos sociais. O projeto evidencia, através das imagens, publicação de livros, debates e exposições fotográficas, o lado desconhecido de conhecidos conflitos: Palestinos sob ocupação israelense; Curdos, na Turquia; Zapatistas no México; Movimento dos Sem-Terra no Brasil; refugiados palestinos no Líbano e na Jordânia; refugiados Saarauis no deserto do Saara e nos territórios ocupados pelo Marrocos; Mapuches no Chile, e os ciganos na Bahia.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012


Exílio significa ser banido, degredado.
Expatriação voluntária ou não.
Deixar o lugar que lhe foi dado, por direito ou por dever.

Exílio no próprio corpo, desfazer-se de si mesmo, redescobrir ações e descobrir ações inata. 
Criar espaços, linhas de fugas, um instante de exílio.
Trânsito livre entre a realidade e a ficção. Permissão e só.
Imaginação em fluxo.

Cito Ileana Dieguez Caballero:

" A teoria como prática interdisciplinar ou in-disciplinar – prefiro hoje dizer – dialoga com a expansão das artes, mas também com a expansão e a problematização da própria categoria de arte, considerando os fluxos entre arte e vida num duplo sentido: não apenas a partir das transformações que a arte veio colocando em nossa vida contemporânea, como também incluindo, muito especialmente, as mutações e contaminações que o espaço do real e as práticas cidadãs introduziram no campo cada vez mais expandido da arte e de todos os sistemas de representação." 

09/09/2012



Eu crio histórias para tornar a realidade mais ou menos cruel... o meu ponto de vista é sempre uma farsa, um novo enredo pra um novo espetáculo...

“Eu tenho um medo constante de que aconteça algo comigo também!”
Vamos resistir. Vamos retomar aquilo que é nosso. Somos potentes roedores. Vamos roer esses muros, vamos retomar e refazer essa marcha. Um depois do outro, regressar àquilo que é nosso. Aquilo que nunca deveria ter deixado de ser nosso.
Vamos voltar pra casa, vamos acabar com esse “climão”. (riso alto, estridente, cambaleante)

Os soldados bons moços são... (rí)
Eles se aproximam nos olham.
Eu, tão somente eu.
Aicha de nome.
Ninguém em existência.

Caminhando nessa noite, a procura de algo que não sei, de alguém que não conheço, porque passou da linha e sumiu como muitos outros pelo deserto.
A rua é do inimigo, a casa não é minha mais.
O soldado que se aproxima.
O toque.
Meus pés já não tocam o chão.
Arrastada.
Encostada.
Levantada.
Invadida.
Um silêncio.
(pausa, o olhar não deve se mover, suspender a respiração)

Não choro.
Não grito.
Não me movimento.
Não mostro a ele o seu troféu.
Não choro.
Invadida.
Não grito.

Posso colocar-me a seus pés?
Escorre entre minhas coxas. Não grito.
(suspiro longo)
Invadida.
(deita-se)

Os soldados até que são bons moços... (respira fundo)
Nesse lugar ocupado...

Meu corpo é puro. Meu corpo apenas é.  Ferir o meu corpo não resolve e não me faz desistir.
Líquido que escorre pela minha coxa. Vermelho. Branco.
Meus olhos que não veem mais. Olhos que só olham dentro.
Fecho os olhos para que outros pares de olhos se abram em mim.
Fecho os olhos para que se abra dentro novamente a certeza e o desejo.

Levanto-me, caminho lento. Pernas bambas. Boca seca. Tudo escorre. Vermelho. Meu corpo liquido.
Soldado distante, liquido que escorre dos olhos. Água salgada.
Não digo o nome.
Só o liquido que escorre.

Caminho lento. Chego lento a lugar nenhum. Caminho. O caminho.
O medo é tudo aquilo que não vejo. O Caminho é lento. Pequenos silêncio. Liquido escorre com soluço pela primeira vez.
Abro o olho lento, ninguém nas ruas.  Olho-me. Ninguém na rua, ninguém aqui.
A barriga vai crescer, laço nada terno tu e eu. Isso já foi dito em algum lugar.
Laço eterno e não terno. Tu e eu. Tu, ele e eu.
Laço eterno. Fecho os olhos, deito.

Vivenciada, viscerada.
Inventada.
Eu invento historias para tornar a realidade mais ou menos cruel. Eu recrio tudo aquilo pra tornar à volta a mim mesma mais ou menos cruel. Refaço o caminho do outro, como se fosse o meu. Pra refazer em mim uma historia que perdi aqui. Refluindo. Fluindo. Desaguando. Relembrando. Invasão de mim.

Aquele homem e eu. Muro. Escuridão. Encostada no muro. Outro muro.
Forte. Alto. Ele e eu.
Acordo.

(desperta do delírio passado, direta com o publico) 
Com licença, você continua aí?
Eu também tenho um cigarro, deseja?
Permita-me mostrar o direito que eu tenho sobre meu próprio corpo território. Direito sobre decidir a mim mesma, sobre quando eu devo andar.
Permita-me andar só. É só isso que eu te peço. Licença pra caminhar sozinha nessa noite quente, enquanto tudo escorre. Enquanto meus olhos tentam se abrir.
Enquanto você pensa que a sua ajuda me basta.
Enquanto você pensa que eu estou em estado de emergência.
Enquanto tudo escorre entre as minhas coxas.
Enquanto eu sonho com o canto secreto dos árabes. ( pausa, reflete), alguém também já disse isso.
Enquanto eu sonho com a serenidade que escorre dos seus lábios.
Enquanto seus olhos se abrem no meu corpo. Eu, tu e ele.

Você quer um cigarro? Um pedaço de pão? É só isso que eu te ofereço: 1 pedaço de pão e ficar aqui sentado, olhando essa noite quente. Não tenha medo. Pode sentar aqui comigo.
Vamos decidir juntos para onde vamos quando o sol chegar.
Quando amanhecer, vamos repartir o que temos e seguir.
Tudo bem, minha mente também não consegue esquecer. Vamos dividir esse prato. Tomar mais um chá que deixa tudo calmo.

(Retorno ao delírio) 
Pára de me dar aspirinas, minha dor de cabeça não passa com isso.
Minha dor de cabeça só vai passar quando você parar de apertar a minha nuca.
Tira a mão de mim. Pára de me medicar.
Façamos um acordo: eu deixo de tomar sua água e sua aspirina, eu páro de gritar na sua orelha, se você tirar a mão da minha nuca.

Estamira ao avesso...
O som do vento.
Cabras falam, eu juro!
Piloto... vôo que nunca rasgou o céu de sua pátria.

"Quem suporta chega a sombra" – ditado saharaui.

Peito aberto de frente ao Front.
Defronte do soldado que se aproxima, debaixo do sol que não me deixa ver nada muito bem o que está acontecendo.
Nosso problema é político. Queremos uma resolução política. Não é uma guerra por religião ou por raça, é uma guerra por auto-determinação. 

 (Escrito depois de uma visita à Asociación de Familiares Presos y Desaparecidos Saharauis - Afrapedesa

07/09/2012


Do outro lado, eles.
Um salto e tudo está aqui do nosso lado.
Fuzil. Confiança que escorre na pele rasgada de sol.
Boca rachada.
Certeza de quem são. Medo que não cessa.
O muro que impede a ultrapassagem, não impede de ver o horizonte.
O lado de lá é o mesmo de cá. Areia por todos os lados.
Minas ativas.
Círculos de pedra.
Barricadas de pedra.
De frente com todo o medo de deixar de ser.
Animal raivoso, vontade de cruzar a linha de frente.

Mohamed cruzou: 2 dias a pé, dois dias de caminhão.
8 anos de idade.

Atento ao caminho, olha por onde pisa.
Segue andando nas linhas do pneu.
Dá tua mão eu vou com você até ali.

 Compreensão de um menino que não vinha, que deixou mãe, pai e irmãos do outro lado.
Ele foi trazido por anjos.
1968 – AI-5, torturas, 44 anos.
1975 – ele tinha 8 anos.

Eu nada, eu pouca coisa, eu aqui. Barulho.
Poesia que não vem.
Pele ardida do sol.
Azzzziiiiizzzzzaaaa.
Saudade que deixou de vir.
Manhã sinistra.
Impaciência.
Ausência minha.
Falta de vontade.
Arte que não escorre.
Diário que não acontece.

06/09/2012

Amigo, eu tô dividindo com você somente esse pedaço de pão. Só isso. É só você me perguntar o que eu realmente quero que não será nada difícil para você compreender: QUE EU ESTOU AQUI PEDINDO SÓ PRA VOCÊ CONVERSAR COMIGO. É que tantos dias se passaram que você quase se esqueceu de mim. Mas, eu não esqueci de você. Eu não esqueci de você enquanto caminhava dia e noite sem parar até cruzar a fronteira, até encontrar com outros de mim. Até que uma barreira se ergueu entre nós, até que não pude mais te olhar, até que seus olhos se foram se apagaram da minha memória. Mas, agora depois de tanto tempo você está aqui e eu não sei mais como se abraça você. Esquecemos como fazer isso. Eu to cheia de protocolos, de barreiras de segurança, é que assim não corremos os riscos dentro de nossas pequenas próprias fronteiras-pele. Desculpa, eu to vomitando palavras em você. Eu sei.

Eu crio histórias, para tornar a realidade mais ou menos cruel.... meu ponto de vista é sempre uma farsa, um novo enredo para um novo espetáculo.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Um passo atrás para dar muitos a frente.

Esse blog tinha uma função poética, de construção imagética de assuntos relacionados ao exílio e, em especial, à causa saharaui, mas com a ida aos acampamentos e conhecendo melhor a realidade e o movimento de libertação do povo, é necessário dar um passo atrás e cumprir com a função de divulgação dos dados históricos e reais desse povo. 
Afinal, informações erradas (como baixa temperatura a noite – sim, elas existem, mas não nesse período do ano, ou então, que nunca chovia no deserto – sim, choveu, pouco, mas caiu água do céu) até falta de informações em português sobre a história desse povo e sua organização social ficaram explícitas durante a viagem e, claro, foram motivos de piadas em diversos momentos (ok, eu assumo! rs).

Mas, vamos lá na tentativa de mudar, recomecemos:

Cinzia Terzi, vice-presidenta da Associação Jaima Sahrawi e pesquisadora do  povo saharaui,  disse-me: “Uma nação só acontece quando se deseja ser nação. A declaração de uma nação parte do desejo, parte da ânsia de ser reconhecido como tal, assim acontece com a RASD – Republica Arabe Saharaui Democratica.” 

O povo saharaui nasce do encontro da população árabe com os nômade berberes e que dizer literalmente, “gente do deserto”. 
Desse encontro, nasce uma população ligada pelo islamismo sunita e por uma língua única “hassanya” (muito próxima ao árabe clássico), dando uma identidade própria à região do Sahara Ocidental. 

Antes da chegada dos colonizadores, eles se dividiam socialmente em camadas, que podemos visualizar como pirâmide. 
No ponto mais alto da pirâmide haviam: 
1- Os cultos, que dominavam os saberes: religioso e as ciências. 
2-Os guerreiros, que asseguravam a defesa do território e da população. 

Descendo na piramide, encontravam-se: 
1- Pastores e agricultores, que em busca de proteção espiritual e armada, pagavam impostos. 
2- Abaixo desses haviam os escravos livres e outros trabalhadores. 

Essa estrutura social era mantida, por um poder central, pelos chefes da tribo, denominado “Conselho dos Quarenta”. 

A Colônia 
A questão do Sahara Ocidental e seu processo de colonização tem como marco a data de 1884, quando a Espanha funda a sua colonia no Rio de Ouro, no Congresso de Berlim. 
Nesse mesmo período, a França e a Espanha definem o território que cabia a cada uma, assim também o Marrocos estava sobre domínio de seus colonos franceses. Em torno de 1890, nasce o primeiro movimento anticolonialista saharaui, com a tribo guerreira “Uld-Delim”. 
Entre os anos de 1900 – 1920, a Espanha e a França, a partir de muitos acordos, decidem as areas de influencias de cada país: Marrocos, Mauritânia e Argélia (França) e Sahara Ocidental (Espanha). 

Em 1949, descobre-se no território o maior centro de fosfato do mundo. 
Em 02 de março de 1956, acontece o processo de descolonização do Marrocos pela França. 
Em 1958, a Espanha divide o território em dois centros administrativas: Rio de Ouro ao sul e, Sanguia El Hamra ao norte, que formavam a província espanhola “Sahara Espanhol”. 
Os conflitos com o Marrocos já são aquecidos nesse momento com o desejo desse país pela construção do “Grande Marrocos”. 
Em 1960, a Argélia torna-se independente. 
Em 1962, independência da Mauritânia. 

Descolonização e traição. 
Os movimentos de libertação da colônia espanhola aumenta nesse período, surgem movimentos nacionalista, anticoloniais. 
Em 1968, cria-se o movimento de Libertação de Sanguia El Hamra e Rio de Ouro. Em 1973 funda-se a Frente Polisario (Frente popular de libertação de Sanguia El Hamra e Rio de Ouro) e o principal objetivo desse movimento que começou clandestinamente e foi se tornando cada vez mais forte e estratégico era a independência do Sahara e a reformulação e enfrentamento do que seria o “Grande Marrocos”, já prevendo o desejo do mesmo sobre o seu território. 
Em 1974, a Espanha propõe um referendo ao Secretariado Geral da Onu que poderia dar a autodeterminação ao povo saharaui. Por esse motivo começa um censo da população naquele momento para o acontecimento da votação. Em 1975, a corte de Aia envia uma delegação da ONU, para verificar a viabilidade do referendo de autodeterminação. Essa corte indica que aquela era uma terra “nula” e que nem o marrocos, nem a Mauritânia tinham qualquer historia sobre o território que poderiam dar qualquer vestígio de vínculo com a área e propõe a continuidade do referendo. O Marrocos, que há muito desejava aquela região se sente desprivilegiado. 
Em 17 de outubro de 1975, um acordo secreto entre a Espanha e o Marrocos, e contra a decisão da ONU de um referendo, permitem o acontecimento da Marcha Verde, no qual 350.000 marroquinos invadem o Sahara Ocidental. 
Em 14 de novembro de 1975, é firmado um acordo entre Espanha, Marrocos e Mauritânia. A Espanha concede o território a esses dois países que iniciam a invasão: ao norte pelo Marrocos e ao sul pela Mauritânia. Tem inicio a retirada dos saharauis. A Frente Polisario resiste de todas as formas, apesar dos bombardeios com Napalm feitos pelos aviões marroquinos. A população que consegue foge para a Argélia, para a cidade de Tindouf e cria-se ali o primeiro acampamento de refugiados. 

Em 27 de Fevereiro de 1976, a Frente Polisario proclama a RASD – Republica Arabe Saharaui Democratica. Decretada no Exílio, que permitiu e assumiu a retirada do poder da Espanha sobre as decisões da população saharaui. 
Em 05 de agosto de 1979, é declarada a paz entre a RASD e a Mauritânia, que retiram as suas tropas. 

O Muro 
Em 1980, a Frente Polisario já havia reconquistado uma pequena parte de seu território, conhecido ainda hoje como Territorio Livre.
Frente a esse fato, Hassan II dá inicio a construção do Muro de areia. 
De 1981 a 1986, o Marrocos se dedica a construção desse muro, que possui mais de 2.500 km de extensão partindo do sul do Marrocos até a costa Atlântica, divisa com a Mauritânia. Além da construção do muro, o Marrocos se encarregou de minar toda a região ao redor do muro, de construir base militares fortemente armadas e com sistema eletrônico em defesa do que eles declararam ser o seu território, dando inicio a uma nova colonização/exploração da região. 

Em 1984, a RASD é reconhecida pela Organização da União Africana, esse fato faz com que o Marrocos saia da Organização.
Em 25 de setembro de 1987, a Onu decide enviar uma missão na região para estudar uma maneira de cessar fogo e finalizar o conflito na região. 
Em agosto de 1988, um acordo de Paz elaborado pelo Secretario Geral da ONU, propõe uma resolução pacífica para a região. 
Em 6 de setembro de 1991, acontece o cessar fogo e a criação da Minurso ( Missão da Nações Unidas por um Referendo no Sahara Ocidental), traçando como data prevista para a votação o dia 26 de janeiro de 1992.

A data determinada pela ONU para a votação é boicotada pelo Rei Hassan II do Marrocos. Desde então, o Marrocos tem ocupado a região, enviando marroquinos para viverem no território para assim, expulsar e diminuir a população saharaui no Sahara Ocidental, dificultando a realização do referendo. 

Atualmente, os saharauis estão divididos em 3 partes: 
1- Acampamentos de Refugiados, localizados em Tindouf, Argélia, com cerca de 200.000 pessoas vivendo em situação de exílio, num ambiente inóspito e pouco propício a vida humana, dependentes sobretudo de ajuda humanitária para viver.
2- Territórios Ocupados, uma parcela da população saharaui, que não conseguiu fugir durante a guerra permanece ainda no Sahara Ocidental sobre o domínio do Marrocos. Nesse território, as histórias de torturas, prisão e sequestros de militantes saharauis são intensas ainda hoje e os registros assustam (em breve um texto somente sobre isso!). 
3- Território Liberado, uma faixa vizinha ao muro, reconquistada pela Frente Polisario durante os anos de guerra.

A historia é longa, o conflito merece atenção, portanto, vou publicar em partes as informações, em breve um texto sobre a Frente a Polisario.


Jaima - Smara - Campo de refugiado saharaui - Tindouf - Argélia

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

São mais de 2.500 kms de muro, com minas cercando todo o território e nós cruzamos por várias delas. Os saharauis estão há 37 anos em Exílio e apesar da opressão do gigantesco muro, eles são exemplos de cidadania, de respeito, de esperança e certeza de uma pátria livre: RASD - Republica Arabe Saharaui Democratica. Sahara Ocidental Livre Já!

Que o Brasil reconheça a RASD!


domingo, 2 de setembro de 2012

Silêncio

Silêncio.
Mentira.
Aqui nenhum silêncio.
Mente que não pára, imagens que não param...

Gente que fala e que fala e que fala.
Eu que falo e que falo e que falo.

Vazio barulhento.
Desconforto do desconhecido.

- Outro vinho, posso?
- É assim, de repente é assim... Vc olha por lado e a pessoa deixa de estar. Foi levada com o vento. Dela só ficaram as fotos, o rosto jovem, o silêncio interminável e as roupas que era preciso desfazer.

A menina mais nova brinca com boneca, de construir casinhas, de colocar tijolinho sobre tijolinho.

- Posso pegar outra taça de vinho?
- ... (balança a cabeça).

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Aqui estou eu de novo, no mesmo bat local...
Pra mim tudo é igual, a mesma casa, mesmas árvores, mesmo calor...

Igual? E as coisas que aconteceram aqui nesse 1 ano? Pra mim ainda é tudo invisível, fora as fotos que ví:

2mts de neve, terremoto que balançou tudo, crise que balançou ainda mais as estruturas... 
Hoje soube que cerca de 20 empresários se suicidaram depois da crise.
Cada um constrói a guerra que pode né não?

Curiosidades que só acontecem quando procuramos saharauis:
A Chrifa (uma muito famosa, aluninha porreta e agitada do ano passado) não foi encontrada nos acampamentos e não veio pra continuar os tratamentos dentários, muitas hipóteses para seu sumiço: 
1- Ela não se chama Chrifa e veio no lugar de outra criança que por algum motivo não pode vir ano passado.
2- Fugiram dos acampamentos?
3- Melhor não pensar nesse 3.....

Vamos lá, que é só o primeiro dia....

Sempre é dolorido sair da casa/pátria, mas é sempre bom sair de mim mesma  e perceber como somos pequenos.


segunda-feira, 13 de agosto de 2012

"Somos assim. Sonhamos o voo, mas tememos as alturas. Para voar, é preciso ter coragem para enfrentar o terror do vazio. Porque é só no vazio que o voo acontece. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Mas é isto que tememos: o não ter certezas. Por isso trocamos o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram."  Rubem Alves

A frase veio da Quesia Botelho, mas cabe direitinho nessa segunda preguiçosa, arrumando malas.... 

Momento de procurar em tudo os "porquês", pra entender porque de novo estou fazendo as malas, porque de novo sinto medo e desejo, porque la vou eu de novo atravessar o oceano pra encontrar a mim mesma. Aonde me perco? Aonde me encontro aqui?

Ontem também apresentamos o "Passagens", encerro esse post apressado com um texto da Hilda Hilst (Obscena Sra D) e o clipe do Exílius, pra relembrar...


" Desamparo, abandono, desde sempre a alma em vaziez, buscava entender de nós todos o destino, isso de vida e morte, esses porquês. Também não compreendo o corpo, essa armadilha, nem a sangrenta lógica dos dias, nem os rostos que me olham nesta vila onde moro."



quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Partindo, de novo.....

A viagem sempre começa muito antes da saída da minha casa/pátria.

Dessa vez está sendo longa a preparação.
Minha mente está fantasiando o que encontrarei dessa vez. 
Vozes me cercam: Aziza, Mohamed, Aicha, Chrifa.... Saudades de todos os pequenos saharauis, cada criança, cada olhar, cada aprendizado. Tudo ficou guardado com tanto carinho, com tanta memória, que até assusta o regresso.
Não trabalharei como artista-educadora, mas como assistente de produção de um grupo de cinema que está montando um documentário, sobre ajuda humanitária pelo mundo: 'Estamos fazendo o certo?'.

Ô perguntinha danada... será que estou fazendo o certo?
Será que ir ao deserto, escrever sobre, trabalhar com as crianças pode alterar a vida delas? (a minha eu garanto que se transforma a cada conversa!)
O que podemos fazer que seja realmente efetivo para transformar a eterna relação "dominador e dominado"?
Como derrubar o muro que impede ver o outro? O outro tão perto, que vivem em barracos sem saneamento básico e sem água potável e os outros tão longe, que vivem em lonas (jaimas) sem uma única gota de chuva por anos, nas suas fontes tão secas.

Esse blog começou destinado a escrever somente notícias sobre a causa saharaui e a busca desse povo pelo desejo de retorno a casa/pátria, pelo fim do conflito com os marroquinos.
Depois virou uma espécie de diário de bordo, durante as viagens.
Agora ele virou um pouco de tudo, inclusive, o doutorado que estou escrevendo, uma forma também artística de compreender as fronteiras, as reais (como o muro saharaui) e as imaginárias.

Para quem ainda não sabe, o meu doutorado irá descrever processos teatrais que mesclam realidade e ficção, que partem de um fato real para a construção de uma ficcional, como é o caso do espetáculo "Exílius", parto de um assunto verídico, de um conflito armado, político, mas crio uma personagem ficcional, que metaforicamente vive num carrinho de mão repleto de areia, do qual nunca poderá sair. 

Front(eiras): dramaturgias entre a realidade e a ficção.
‘Front’ linha de frente nas batalhas.
‘sem eiras’ as eiras são chãos duros/firmes, utilizadas para secar produtos agrícolas, bem como também cumpriam uma função social, uma vez que proporcionavam um local onde podia decorrer certas cerimônias ou eventos públicos, tais como bailes ou missas. A importância da eira na vida das populações rurais era de tal forma evidente, que deram origem a vários toponímicos, e à expressão "sem eira nem beira", que significa destituído de tudo, numa alusão de como as eiras eram centrais na sua vivência.
‘Fronteiras’, portanto, como território de identidades múltiplas, do qual muitas vezes a linha divisória oficial de separação entre os espaços não corresponde à realidade mestiça e misturada dos que habitam esses locais.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Uma postagem por dia?



Ela prometeu: uma postagem por dia, ela falhou ontem...

Ela tem falhado com algumas coisas ultimamente....

Ela visitou a melancolia... achou engraçado como poderia sobreviver tanto tempo nela??

Ela decidiu escrever em terceira pessoa, pra ver se consegue olhar com calma, se encontra um caminho um pouco mais tranquilo, já que dentro tudo é tempestade.
Queria falar bonito como alguns poetas que conhece, mas não tomou tanto jeito assim com as palavras e com a ordem delas.

Fica aqui pensando, fantasiando dunas:
"Dunas nômades, mutantes, dunas dançantes, que são levadas com o vento, que são transportadas com o vento."

Fica aqui pensando, fantasiando tendas:
"Tendas coloridas, Jaimas coloridas, dançantes que bailam como saias ao vento sob seu amante de areia."

No fundo tudo é fantasia, tudo é ilusão....
Nem a morte é real.

E a memória é atualização daquilo que não é mais, é recriação. 
É aquilo que se deseja que tenha sido.


Strawberry Fields Forever

The Beatles

Let me take you down,
'cause I'm going to Strawberry Fields.
Nothing is real,
And nothing to get hung about.
Strawberry Fields forever.
Living is easy with eyes closed,
Misunderstanding all you see.
It's getting hard to be someone,
But it all works out;
It doesn't matter much to me.
Let me take you down,
'cause I'm going to Strawberry Fields.
Nothing is real,
And nothing to get hung about.
Strawberry Fields forever.
No one I think is in my tree,
I mean, it must be high or low.
That is, you can't, you know, tune in,
But it's all right.
That is, I think it's not too bad.
Strawberry Fields Forever
Let me take you down,
'cause I'm going to Strawberry Fields.
Nothing is real,
And nothing to get hung about.
Strawberry Fields forever.
Living is easy with eyes closed,
Misunderstanding all you see.
It's getting hard to be someone,
But it all works out;
It doesn't matter much to me.
Let me take you down,
'cause I'm going to Strawberry Fields.
Nothing is real,
And nothing to get hung about.
Strawberry Fields forever.
Always know, sometimes think it's me.
But you know, I know when it's a dream.
I think a "No," I mean a "Yes,"
But it's all wrong.
That is, I think I disagree.
Let me take you down,
'cause I'm going to Strawberry Fields.
Nothing is real,
And nothing to get hung about.
Strawberry Fields forever. Strawberry Fields forever,
Strawberry Fields forever, Strawberry Fields forever

terça-feira, 10 de julho de 2012

Por favor regressar, porque está entrando num campo de minas....

Por favor a liberdade será guiada, por favor acalmem-se, o passo deve ser lento, por favor quase 3 mil kilômetros de muro, por favor.... liberdade caça jeito.

Por favor, por favor, por favor, se  interessa, se importa, acessa o link abaixo:

http://www.youtube.com/watch?v=DkN_dDG4cPY&feature=related

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Outra vez silêncio

Ela não conseguiu dormir.
Ficou rolando na cama, os pensamentos rolando mais.
Ela perdeu o domínio sobre o pensar.

Procurou no dicionário o sentido de liberdade. Não encontrou eco em si na leitura.

Liberdade pra existir é preciso poetizar, liberdade não tem graça quando é formal.

Então, procurou nos seus escritores textos sobre liberdade, já que ela mesmo perdeu o tempo e o tema:

“Quem anda no trilho é trem de ferro, sou água que corre entre pedras: liberdade caça jeito.” (Manoel de Barros)

“- Ela é tão livre que um dia será presa.
- Presa por quê?
- Por excesso de liberdade.
- Mas essa liberdade é inocente?
- É. Até mesmo ingênua.
- Então por que a prisão?
- Porque a liberdade ofende.“ (Clarice Lispector)

“Acordei hoje com tal nostalgia de ser feliz. Eu nunca fui livre na minha vida inteira. Por dentro eu sempre me persegui. Eu me tornei intolerável para mim mesma. Vivo numa dualidade dilacerante. Eu tenho uma aparente liberdade mas estou presa dentro de mim.” (Também da Clarice)

“que límpido ordenado, que precisões hein? liberdade pra quê? liberdade têm os outros de te montar em cima, de te arrancarem o naco de carne da boca, tens medo de que te tirem o quê se não tens nada?” (Hilda Hilst)

Tanta liberdade dita por aí e ela aqui, parada, buscando alguma que valesse apena ser compartilhada.
Porque é necessário fazer valer apena, é preciso ter força pra enfrentar o exercito oculto.
Ela não encontrou as armas, sentiu-se responsável pelo que não encontrou.

domingo, 8 de julho de 2012

Exilada em si mesma

De repente, ela deixou de se reconhecer...
De repente, ela deixou de se reconhecer...
Transbordar já não bastava mais.
Mas, ela não aprendeu a falar sobre, sempre esbarra nas palavras, nas ações, ela pode até pensar certo, mas não a ensinaram a agir certo. 

Dentro do peito uma dor não reconhecida. 
Disseram que ela tinha crise capital, ela se viu dentro do sistema e sem chance de mudar ou refazer as relações já estabelecidas na sociedade do consumo e do poder: É preciso ter poder para ser... Um poder que pra ser, precisa oprimir o outro, condenar alguém, encontrar um culpado para tudo o que está errado.
E hoje, parece que tudo está errado.

Acordou azeda, desencontrada, sem brilho, buscando nos outros um alivio que nunca vem, que não chega, por que o problema não está no outro, está em si, está no todo.

Pânico de gente, você já teve pânico de gente? E pânico de si mesma, de tudo o que não consegue e não conseguiu fazer?
O mundo acabando, Rio + 20 que se foi, nada muda, as coisas não mudam nem no pequeno, as cobranças continuam as mesmas, as dores as mesma, a guerra não declarada contra alguém.
Alguém precisa ser punido pela cobrança que outro alguém recebe, transfiro a dor...

Na linha de frente das batalhas invisíveis.
Na batalha contra o próprio medo.
Na batalha de dores desconhecidas, de repente se arrepende de tudo, de todas as falsas ações feitas até hoje.

Ela perdeu seu maior receptor, ela não soube lidar com o vazio.
Ela não soube lidar com a fantasia do desconhecido.
Ela tentou fugir de diversas formas, ela errou a maior parte do tempo, não conseguiu se colocar.
Buscou novas formas, essas formas não preencheram o vazio.

Hoje, ela vai chorar....

“chora sem dar por isso”

Ela vai escrever um texto, mesmo que breve, até o retorno da viagem, todos os dias, compromisso com a causa assumida.
Ela está com medo, mas não quer ser tomada por ele, pelo menos não agora, não de novo.

Entre fatos reais e imaginação, ela segue escrevendo.
Leva “Jorge” no peito, pra ver se espanta a dor que não passa.

Todo mundo corre, tudo corre, tudo apavora, ela se apavora.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Comunicato urgente - enviado pela Associação Jaima Saharaui

Il Fronte Polisario e il governo della Repubblica saharawi giudicano infondata e arbitraria la decisione del Regno del Marocco di ritirare la fiducia all'inviato personale del segretario generale dell'ONU, Christopher Ross, nel prosieguo della missione a lui affidata dal Segretario generale e dal Consiglio di Sicurezza per cercare una soluzione giusta e duratura al conflitto del Sahara Occidentale, garantento il diritto del popolo saharawi all'autodeterminazione. 
Questa decisione, tanto grave quanto ingiustificata, è una nuova sfida intollerabile e inammissibile del Marocco alla Comunità Internazionale, al Segretario generale e al Consiglio di Sicurezza, che, nella risoluzione 2044 del 24 aprile 2012, ha considerato lo status quo inaccettabile a ha "riaffermato il suo appoggio all'inviato personale del Segretario generale per il Sahara Occidentale, Christopher Ross, e all'azione che egli porta avanti per facilitare le negoziazioni fra le parti". 
Agendo in questo modo, il Marocco vuole arrogarsi senza vergogna il diritto di dettare al Segretario Generale il contenuto dei suoi rapporti al Consiglio di Sicurezza e decidere la condotta che dovrebbe seguire il suo inviato personale per il Sahara Occidentale. Come vuole, allo stesso modo, fare di tutto per ridurre a zero la credibilità e la neutralità operativa della MINURSO, dichiarata nell'ultimo rapporto del Segretario generale, bloccare il processo di pace e continuare a violare impunemente i diritti umani nei territori saharawi occupati. Il Fronte Polisario e il governo della RASD, rinnovando la volontà delle autorità saharawi a confermare il loro sostegno e la loro cooperazione leale con gli sforzi del Segretario generale e del suo inviato personale, Christopher Ross, per portare a termine il processo di decolonizzazione del Sahara occidentale, lanciano un appello pressante al Consiglio di Sicurezza perché prenda le misure e le decisioni necessarie al fine di salvaguardare e proteggere l'autorità delle Nazioni Unite e la credibilità della sua azione di pace nel Sahara Occidentale, dalle derive e conseguenze della strategia di fuga perseguita dal Marocco. 

 Bir Lahlou, 17 mai 2012

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Relendo o Eduardo Galeano

“Nada se fala do Muro do Marrocos, que há 20 anos perpetua a ocupação marroquina do Saara ocidental. Este muro, minado de ponta a ponta e de ponta a ponta vigiado por milhares de soldados, mede 60 vezes mais do que o Muro de Berlim. (...) Por que será que os olhos se negam a ver o que está diante deles? Será por serem os saarauis uma moeda de troca, oferecida por empresas e países que compram do Marrocos o que o Marrocos vende, embora não seja seu? Há dois anos, Javier Corcuera entrevistou, em um hospital de Bagdá, uma vítima dos bombardeios contra o Iraque. Uma bomba havia destroçado um de seus braços. E ela, que tinha oito anos de idade e havia sofrido 11 cirurgias, disse: "Tomara não tivéssemos petróleo".Talvez o povo do Saara seja culpado porque em seu longo litoral reside o maior tesouro pesqueiro do Oceano Atlântico e porque sob a imensidade de areia, que parece tão vazia, exista a maior reserva mundial de fosfatos e, talvez, também de petróleo, gás e urânio.No Alcorão poderia estar escrito, embora não esteja, esta profecia: as riquezas naturais serão a maldição das pessoas.”

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Julgamento severo

Em El Aiun, essa noite, muitos saharauis foram julgados e condenados a prisão, a lista foi divulgada por Ibrahim:

aziz barai : 3 años
kamal etraieh:3 años
elmahjoub awlad cheikh: 3 años
manolo mohamed: 3 años
hasana eluali: 3 años
anour esadat elhmaid: 3 años
omar eljazari: 3 años
eluali hmayada: 1 año y 6 meses
sidati dlaimi: 1 año
khalid amim: 1 año
barikalah dalbouh: 1 año
mohamed echrif enasri : 1 año
balla ali salem: 1 año
elhaj ehmaida: 1 año
bousaif aamar: 1 año

Como bem disse Alipio Freire: o pau de arara ainda vive, infelizmente!!

terça-feira, 17 de abril de 2012

Cia Auto-retrato Relato sobre a ação da Guarda Civil Metropolitana, em conjunto com a Subprefeitura da Sé

Esse mail recebi de uma companhia amiga, do período da faculdade, pessoas que conheço e acima de tudo acredito. Estão fazendo uma faxina um pouco errada no mundo. Segue pra todos, incluindo o link para o vídeo no youtube.
Que lugar é esse que vivemos sobre o medo do outro? Um morador de rua assusta tanto assim as "otoridade" dessa cidade?  

Nós, integrantes do grupo de teatro Companhia Auto-Retrato, presenciamos às 10hs da manhã do dia 12 de abril de 2012, na Praça da Sé, um conjunto formado por Guardas Civis Metropolitanos (GCM) e funcionários da Subprefeitura da Sé promovendo a apreensão de objetos pessoais de algumas das pessoas que ali estavam: sacos, sacolas, bolsas, roupas. Aparentemente, o critério para a tomada dos objetos, das mãos de seus donos, era o fato destes pertencerem a pessoas que supostamente não têm residência.

Diante da resistência por parte dos donos dos objetos, houve resposta truculenta da GCM, que deu continuidade à ação ao lado de uma equipe uniformizada da Subprefeitura da Sé, munida de luvas e máscaras.

Quando questionado por um dos integrantes da Companhia, o comandante da ação, que se apresentou como Sérgio, alegou que o procedimento fazia parte de um contexto maior de ações coordenadas pela prefeitura, e citou o exemplo da Polícia Militar, que estava encarregada de retirar os objetos guardados nas bocas de lobo, dentro de um processo de “limpeza da cidade”. Reiteramos que testemunhamos objetos sendo retirados sobretudo das mãos das pessoas, e não apenas objetos dispostos no chão ou dentro de bueiros. Nos parece claro que a questão não se refere à limpeza física dos bueiros ou do passeio público, e sim a um processo consciente de gentrificação. À resposta evasiva do comandante, somou-se sua orientação para que procurássemos a Subprefeitura da Sé para esclarecimentos sobre o decreto que estabelece esse procedimento.

Em menos de dez minutos, dois caminhões foram plenamente abastecidos com objetos pessoais. Mesmo sob protestos de moradores de rua e demais munícipes que, de passagem, se mostravam abismados com a natureza e com a violência da ação, os funcionários da Subprefeitura e da GCM não nos informaram com precisão qual seria o destino dos objetos apreendidos. A resposta foi, mais uma vez, evasiva.
Na conversa que tivemos com os Guardas Civis e com pessoas que estavam na praça fomos informados de que essa ação acontece frequentemente, em dias e horários alternados, em vários espaços públicos do centro da cidade de São Pa ulo.

Dois dos integrantes da Companhia, seguindo as orientações da GCM, foram à Subprefeitura da Sé. Conduzidos por diversos setores diferentes, obtiveram a informação de que o responsável pelo procedimento não se encontrava no prédio. Eles chegaram, então, à assessoria jurídica, onde foram informados da existência do Decreto 50448, de 2009, que define como função das Subprefeituras e da GCM garantir a possibilidade de livre circulação no espaço público e fornecer assistência social (esse decreto e suas posteriores alterações estão disponíveis na internet: 

http://www3.prefeitura.sp.gov.br/cadlem/secretarias/negocios_juridicos/cadlem/integra.asp?alt=26022009D%20504480000)[1].

O procedimento correto, segundo o assessor jurídico, seria o encaminhamento dos moradores de rua para abrigos e, seus pertences, guardados em embalagens lacradas – cujos contralacres seriam entregues aos proprietários, para que pudessem retirá-los no lugar onde fossem armazenados.

Independentemente da discussão que se pode fazer a respeito do teor do decreto, o que testemunhamos claramente não corresponde ao seu conteúdo. Os objetos pessoais eram simplesmente jogados nos caminhões e não eram dadas, aos seus donos, informações de se e como eles poderiam ser recuperados. A opinião geral de quem acompanhou a ação era de que tudo aquilo seria jogado em algum lixão.

Nós, da Companhia Auto-Retrato, acreditamos que essa ação corresponde a uma grave violação aos direitos dos cidadãos anônimos que estavam na praça, que tiveram seus bens confiscados sem qualquer justificativa nem possibilidade de defesa. Tão inquietante quanto isso é a questão que fica: que critérios serviram de fundamento para a escolha das pessoas que tiveram seus bens confiscados?

Companhia Auto-Retrato

Segue o link para o vídeo:

domingo, 15 de abril de 2012

Ultimas notícias recebidas da Jaima Sahrawi

Indirettamente, Ban Ki-moon accusa il Marocco di spiare l’ONU nel Sahara
di Luca Pistone. Scritto il 14 apr 2012 alle 11:00.

Il segretario generale delle Nazioni Unite, Ban Ki-moon, accusa il Marocco di spiare la Minurso, il contingente delle Nazioni Unite nel Sahara Occidentale, la cui missione si trova a fronteggiare sempre più ostacoli.

Nel rapporto di 28 pagine inviato al Consiglio di Sicurezza dell’ONU -che il 30 aprile prorogherà il mandato dei caschi blu- Ban afferma che “ci sono indizi che fanno pensare che la riservatezza delle comunicazioni tra la sede del Minurso (ad El Aaiún) e New York, risulti compromessa in almeno un’occasione”. Non menziona il Marocco, ma fonti diplomatiche non dubitano che alluda al paese nordafricano.

Ban lamenta inoltre che l’accesso della Minurso alla popolazione locale “è controllato” dal Marocco. “Parallelamente, la presenza della polizia marocchina al di fuori del complesso residenziale (dell’ONU) scoraggia i visitatori ad avvicinarsi alla missione”.

Il contingente, continua il funzionario, “è incapace di esercitare appieno i suoi compiti di controllo, monitoraggio e informazione della pacificazione”. Chiede, tra l’altro, che la missione venga rafforzata con 15 osservatori militari da affiancare ai 230 membri della Minurso.

Nella bozza diffusa il 6 aprile, tra gli obiettivi della Minurso, figurava “l’attuazione del referendum sull’autodeterminazione” che rivendica il Fronte Polisario. L’ultima versione, pubblicata l’11 aprile, menziona solo “l’applicazione delle successive risoluzioni del Consiglio di Sicurezza”. Da notare che la sigla Minurso sta per The United Nations Mission for the Referendum in Western Sahara.

Il rapporto non include un’altra antica aspirazione del Polisario, sostenuta da Amnesty International e Human Rigts Watch: una vigilanza ONU sui diritti umani nel Sahara, come fanno altri contingenti di pace in altre parti del mondo.

Ciononostante, Ahmed Boujari, rappresentante del Polisario all’ONU, definisce il rapporto “un’evoluzione positiva”. Si dice soddisfatto delle recenti dichiarazioni di Ban, secondo cui, la Minurso, per poter adempiere al suo mandato, deve “aver accesso ad informazioni affidabili e credibili”, cosa di cui oggi non dispone. Ottenute tali informazioni, sostiene Ban, si avrebbe “un libero accesso al territorio Saharawi di diplomatici, giornalisti e organizzazioni di diritti umani”.

Da cinque anni Marocco e Polisario intrattengono riunioni informali, alle quali presenziano delegazioni algerine e mauritane. Ban ricorda come questi appuntamenti non abbiano condotto a “progressi reali”.

Il ministro degli Affari Esteri del Marocco non ha ancora commentato il rapporto, di cui conosce il contenuto dagli inizi del mese, facendo parte il suo paese del Consiglio di Sicurezza dell’ONU.

Ban chiede, infine, la liberazione dei cooperanti spagnoli, Enric Gonyalons e Ainhoa Fernández, e dell’italiana Rossella Urru, sequestrati lo scorso ottobre in una zona sotto il controllo del Polisario.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Edgar Morin e nossa pesquisa....

Hoje, fui surpreendida, durante uma reunião do Matula, por esse texto incrível do Edgar Morin, que a Alice Possani (diretora do espetáculo Exílius) trouxe para as companheiras Matulas e para o nosso espetáculo:


"Devemos resistir àquilo que separa, desintegra e distancia, mesmo sabendo que a separação, a desintegração e o distanciamento ganharão a partida. A resistência é o que ajuda estas forças fracas, o que defende o frágil, o perecível, o emergente, o belo, o verdadeiro, a alma. É o que pode abrir uma fenda no Plexiglas da indiferença, para sorrir e consolar os prantos. Sorrir, rir, fazer piada, brincar, acariciar e abraçar; tudo isso é também resistir.
Resistir, resistir em primeiro lugar a nós mesmos, a nossa indiferença e a nossa desatenção, a nossa preguiça e ao nosso desânimo, a nossas vis pulsões e mesquinhas obsessões. Resistir por/para/com amizade, caridade, piedade, compaixão, ternura e bondade. A resistência à crueldade do mundo deve tentar manter a união na separação, tentar unir o que está solto deixando-o livre, suscitar o arrependimento concedendo o perdão.
(...)
A busca do esforço cósmico desesperado que, no ser humano, toma a forma de uma resistência à crueldade do mundo é o que eu chamaria de esperança."

(Edgar Morin)

segunda-feira, 19 de março de 2012

Cheia de clichês

Acordei cheia de clichês.

Com vontade de escrever depois de tanto tempo!

Quando digo que o Exílius às vezes de exila de mim, estou mentindo.
Continuo exilada em algum lugar aqui dentro, bem dentro, buscando respostas para coisas que não têm respostas, simplesmente por que nossa evolução não nos permite acreditar que pode ser diferente ou pelo menos visualizar algo diferente.

Admiramos lideres distantes, admiramos o dinheiro, mas não admiramos o simbólico, o pequeno. Acreditamos nas grandes potencias mundias, no poder Norte Americanóide, mas não acreditamos em nossa própria mudança, interna, pequena e, também, não deixamos o outro mudar quando damos a ele um título, um caráter, um nome. Tornamos o outro e a nós mesmos seres imutáveis, classificamos e pronto. Como se não fossemos muitas coisas dentro de nós. Como se não fossemos múltiplos, complexos. Fixamos o mundo e a nós mesmos.

Só não compreendo o que veio primeiro: se a fixação do mundo interno ou do mundo externo.

No processo do novo espetáculo Circo K, esse pensamento tem ficado aflorado: talvez a organicidade de uma personagem seja justamente sua multiplicidade, as facetas escondidas. Por que na vida somos assim: amorosos e ciumentos; corajosos e covardes; compreensíveis e intolerantes... tudo depende do fato, do instante, das pessoas que estão ao redor.

Por que então, é tão difícil no cotidiano aceitarmos o diferente? O amor diferente, a decisão diferente?
Por que acreditamos no modelinho de pessoas bem-sucedidas nos seus carrões importados e nas suas casas propaganda de margarina? Ou, de pessoas bem humoradas, fortes? Por que é feio ser fraco?

Por que criamos o mundo do perigo?
O mundo muçulmano, segundo a visão de muitos ocidentais é perigoso, assim como já foram os russos, assim como em breve pode ser o Brasil, já que andam dizendo por aí que estamos nos tornando potência: o BRIC!

O mendigo, morador de rua, sujo é muito perigoso. O usuário de droga é criminoso. O portador de deficiências é incompleto, é ineficiente. O negro não pode possuir cargo alto, de reconhecimento, ou pensamento expressivo diferente da maioria, porque normalmente não tem escolaridade pra isso (exceto se for o presidente dos EUA, mas ele tem alma branca e consciência politica elevada – juro que ouvi isso!). É melhor e mais seguro as mulheres não receberem mais que os homens, é vergonhoso para eles.

Assim continuo no meu clichê de menina nervosinha e revolucionária da classe média, branquela querendo acreditar numa possível visão da diferença.

É acho que eu acordei cheia de clichês.

Na verdade, eu tinha acordado com vontade de fazer uma declaração de amor, mas eu não consegui.
Ia escrever um texto pros meus irmãos.

Em especial, nesse momento da vida, pro Mano Chester, pra contar que o admiro pacas e que to louca de amores pela coragem dele, que no seu maior estado de menino grande, ele ensina e faz a gente acreditar na vida.
Nas passagens... nos rituais, nos instantes!
Tenho mais simpatia pela coragem dele de aceitar o amor incondicional, de florear os meus olhos com carinho, do que qualquer rapazão rico por aí. O mano me ensina a paciência, aquela mesma que eu esqueci. É, eu esqueci de passar na fila da “Paciência” quando estava pra nascer e vou ter que aprender aqui, na labuta aonde ela fica.
Mas, ele não, parece que ele entendeu que tudo se encaixa, que no lento andar da carruagem as abóboras se ajeitam. Sem medo, ele faz, no silêncio que só ele consegue ter (até mesmo quando era  criança e fazia coisa errada!).
Eu me sinto criança ao seu lado. Admirando o seu existir e tentando aprender!

Do outro mano, fica a lição de liberdade, de desapego, que eu, na função de irmã mais velha também não consegui!!

Vamos seguindo no nosso universo privado tentando religar os pontos, na esperança, quem sabe, de sabermos que somos iguais.

“O mundo de dentro da gente é maior que o mundo de fora da gente!” (ABU)

domingo, 8 de janeiro de 2012