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sexta-feira, 5 de outubro de 2012

07/09/2012


Do outro lado, eles.
Um salto e tudo está aqui do nosso lado.
Fuzil. Confiança que escorre na pele rasgada de sol.
Boca rachada.
Certeza de quem são. Medo que não cessa.
O muro que impede a ultrapassagem, não impede de ver o horizonte.
O lado de lá é o mesmo de cá. Areia por todos os lados.
Minas ativas.
Círculos de pedra.
Barricadas de pedra.
De frente com todo o medo de deixar de ser.
Animal raivoso, vontade de cruzar a linha de frente.

Mohamed cruzou: 2 dias a pé, dois dias de caminhão.
8 anos de idade.

Atento ao caminho, olha por onde pisa.
Segue andando nas linhas do pneu.
Dá tua mão eu vou com você até ali.

 Compreensão de um menino que não vinha, que deixou mãe, pai e irmãos do outro lado.
Ele foi trazido por anjos.
1968 – AI-5, torturas, 44 anos.
1975 – ele tinha 8 anos.

Eu nada, eu pouca coisa, eu aqui. Barulho.
Poesia que não vem.
Pele ardida do sol.
Azzzziiiiizzzzzaaaa.
Saudade que deixou de vir.
Manhã sinistra.
Impaciência.
Ausência minha.
Falta de vontade.
Arte que não escorre.
Diário que não acontece.

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