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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011



Resistimos porque foi assim que aprendemos...
Que apesar de todos os pesares, nossos pés ainda estão no chão.
Nossa cabeça ainda está sobre o pescoço.
Nosso coração continua batendo.
Nossa mente continua trabalhando.

Tá chegando o fim de 2011, com ele, o ano mais movimentado de minha vida, o ano de maior revolução/evolução...
As últimas notícias do saharauis chegaram por facebook, por e-mail, por skype e por sonhos

Nesse semestre, do outro lado do oceano, só se falou da crise européia, da revolução no mundo árabe.

Aqui no Brasil falamos da Copa do mundo, das primeiras damas.
De Campinas, a dança das cadeiras na prefeitura, secretario que vai, secretario que vem, teatro que não vem, espaços que fecham suas portas, teatro interditado.

Hoje, o jornal da manhã publicou a morte do imperador Norte-coreano Kim Jong-II e do ex-presidente Checo Vaclav Havel, saída das tropas americana do Iraque.
Ontem, as notícias eram a morte de Joãozinho Trinta, Sérgio Brito e Cesaria Évora.
O céu parece cheio ultimamente....

Mas, acho melhor nem contabilizar a quantidade de mortos das guerras, os números podem assustar, afinal é final de ano, tempo de paz, de perdão, de esquecer, de passar por cima de tudo o que foi, como diria a Cassiane Tomilhero:

"É foda mesmo, tem cachorrinho que morre espancado por ignorância e intolerância humana!!!
Pelo mesmo motivo tem crianças morrendo de fome no Brasil, tem outras crianças morrendo na guerra civil em muitos países. Tem gente morrendo por falta de uma política descente na saúde. Tem muro que separa gente, tem campo minado que decepa vidas, tem milhares de mortos no trânsito das cidades, tem criança sem direito à educação porque a verba foi desviada. E pelos mesmos motivos, e ainda por ganância e desejo de poder, tem uma mídia que nos faz esquecer disso tudo, nos tira a capacidade crítica de entender este processo e nos torna um monte de gente passiva e repetidora de frases de efeito, um monte de falsos "engajados". Perdemos muito do senso e da coragem e agora só somos capazes sair em defesa do cachorrinho morto.
Mas afinal, é natal... vamos às compras!!!" 

* a foto é do Muro do Teatro Útero de Vênus, local que ainda resiste em Campinas!

19 de dezembro

Enquanto espero novas notícias, resumo e acrescento uma das noticias recebidas pela Jaima Sahrawi:

Para o povo saharaui, a situação encontrada nesses primeiros dias de dezembro é a mais tensa que já se viu desde 1991. 
O XIII Congresso da Frente Polisário, (15-19 dezembro) discutirá as ações e o futuro da causa saharaui. O argumento é: pegar em armas ou não.

Forçados a viver num campos de refugiados na Argélia desde 1975, devido à ocupação marroquina ilegal do Sahara Ocidental, a população saharaui está enfrentando uma encruzilhada que pode mudar radicalmente o futuro da região. 

Após anos de negligência da luta armada , em 1991 houve o cessar-fogo estabelecido pelo plano de paz da ONU MINURSO (destinadas a alcançar a auto-determinação do Sahara Ocidental no território disputado entre Marrocos e a República Saharaui) - o movimento assumiu como eficaz a luta por meios pacíficos.

O que acontece nesse momento, é que os líderes da Frente Polisário já não são capazes de conter o movimento jovem atual, que frustrado por anos de fracasso e negligência das negociações internacionais, vê na luta armada a única solução para recuperar o controle efetivo do território.

A restauração da luta armada traria consigo consequências significativas em termos de política, social e econômica. Voltar para a violência original seria um distanciamento muito grande da causa saharaui e de muitos ativistas internacionais que até agora têm apoiado esse povo, justamente por sua natureza pacífica. 

A discussão de um tema tão controverso e perigoso não poderia ter vindo em pior hora, quando houve o sequestro de três ativistas humanitários em outubro, num acampamentos de refugiados saharauis na Argélia Rabun (1 italiana – Rossela Urru e 2 espanhóis da Associação Amigos del Pueblo Saharaui), esse fato dramático abre uma nova fase do conflito no Sahara Ocidental.
Um incidente violento tão inesperado, complica o cenário de uma forma irreversível. 
Se acrescentarmos que essa frente radical do povo saharaui não possa esperar para pegar em armas, o resultado é um barril de pólvora pronto para explodir.

A RASD e a Frente Polisario imediatamente após o rapto, começaram a trabalhar com as autoridades responsáveis ​​pela libertação de prisioneiros. 

A restauração da luta armada só beneficiaria o reino marroquino, dando legitimidade à interferência da França e da Espanha como garantia da segurança na região. Esse cenário levaria a um inevitável isolamente da República Saharaui.

Tudo o que resta é esperar e torcer para que o XIII Congresso decida que a "não violência" continue a ser o carro-chefe da luta da Frente Polisário. 
Acreditar ainda na diplomacia para relações internacionais pode ser somente um sonho, cultivado por mim a distância do conflito. 

Poucos dias atrás, 30 de novembro, a ativista Aminetu Haidar foi premiada com o Rene Cassin, prêmio dos Direitos Humanos (edição 2011) por sua luta pessoal em favor do povo saharaui. A luta que, por tantos anos, pagou com sua vida em prisões no Marrocos, bem como com graves danos físicos e com a famosa greve de fome no aeroporto de Lanzarote.