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sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Aqui estou eu de novo, no mesmo bat local...
Pra mim tudo é igual, a mesma casa, mesmas árvores, mesmo calor...

Igual? E as coisas que aconteceram aqui nesse 1 ano? Pra mim ainda é tudo invisível, fora as fotos que ví:

2mts de neve, terremoto que balançou tudo, crise que balançou ainda mais as estruturas... 
Hoje soube que cerca de 20 empresários se suicidaram depois da crise.
Cada um constrói a guerra que pode né não?

Curiosidades que só acontecem quando procuramos saharauis:
A Chrifa (uma muito famosa, aluninha porreta e agitada do ano passado) não foi encontrada nos acampamentos e não veio pra continuar os tratamentos dentários, muitas hipóteses para seu sumiço: 
1- Ela não se chama Chrifa e veio no lugar de outra criança que por algum motivo não pode vir ano passado.
2- Fugiram dos acampamentos?
3- Melhor não pensar nesse 3.....

Vamos lá, que é só o primeiro dia....

Sempre é dolorido sair da casa/pátria, mas é sempre bom sair de mim mesma  e perceber como somos pequenos.


segunda-feira, 13 de agosto de 2012

"Somos assim. Sonhamos o voo, mas tememos as alturas. Para voar, é preciso ter coragem para enfrentar o terror do vazio. Porque é só no vazio que o voo acontece. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Mas é isto que tememos: o não ter certezas. Por isso trocamos o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram."  Rubem Alves

A frase veio da Quesia Botelho, mas cabe direitinho nessa segunda preguiçosa, arrumando malas.... 

Momento de procurar em tudo os "porquês", pra entender porque de novo estou fazendo as malas, porque de novo sinto medo e desejo, porque la vou eu de novo atravessar o oceano pra encontrar a mim mesma. Aonde me perco? Aonde me encontro aqui?

Ontem também apresentamos o "Passagens", encerro esse post apressado com um texto da Hilda Hilst (Obscena Sra D) e o clipe do Exílius, pra relembrar...


" Desamparo, abandono, desde sempre a alma em vaziez, buscava entender de nós todos o destino, isso de vida e morte, esses porquês. Também não compreendo o corpo, essa armadilha, nem a sangrenta lógica dos dias, nem os rostos que me olham nesta vila onde moro."



quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Partindo, de novo.....

A viagem sempre começa muito antes da saída da minha casa/pátria.

Dessa vez está sendo longa a preparação.
Minha mente está fantasiando o que encontrarei dessa vez. 
Vozes me cercam: Aziza, Mohamed, Aicha, Chrifa.... Saudades de todos os pequenos saharauis, cada criança, cada olhar, cada aprendizado. Tudo ficou guardado com tanto carinho, com tanta memória, que até assusta o regresso.
Não trabalharei como artista-educadora, mas como assistente de produção de um grupo de cinema que está montando um documentário, sobre ajuda humanitária pelo mundo: 'Estamos fazendo o certo?'.

Ô perguntinha danada... será que estou fazendo o certo?
Será que ir ao deserto, escrever sobre, trabalhar com as crianças pode alterar a vida delas? (a minha eu garanto que se transforma a cada conversa!)
O que podemos fazer que seja realmente efetivo para transformar a eterna relação "dominador e dominado"?
Como derrubar o muro que impede ver o outro? O outro tão perto, que vivem em barracos sem saneamento básico e sem água potável e os outros tão longe, que vivem em lonas (jaimas) sem uma única gota de chuva por anos, nas suas fontes tão secas.

Esse blog começou destinado a escrever somente notícias sobre a causa saharaui e a busca desse povo pelo desejo de retorno a casa/pátria, pelo fim do conflito com os marroquinos.
Depois virou uma espécie de diário de bordo, durante as viagens.
Agora ele virou um pouco de tudo, inclusive, o doutorado que estou escrevendo, uma forma também artística de compreender as fronteiras, as reais (como o muro saharaui) e as imaginárias.

Para quem ainda não sabe, o meu doutorado irá descrever processos teatrais que mesclam realidade e ficção, que partem de um fato real para a construção de uma ficcional, como é o caso do espetáculo "Exílius", parto de um assunto verídico, de um conflito armado, político, mas crio uma personagem ficcional, que metaforicamente vive num carrinho de mão repleto de areia, do qual nunca poderá sair. 

Front(eiras): dramaturgias entre a realidade e a ficção.
‘Front’ linha de frente nas batalhas.
‘sem eiras’ as eiras são chãos duros/firmes, utilizadas para secar produtos agrícolas, bem como também cumpriam uma função social, uma vez que proporcionavam um local onde podia decorrer certas cerimônias ou eventos públicos, tais como bailes ou missas. A importância da eira na vida das populações rurais era de tal forma evidente, que deram origem a vários toponímicos, e à expressão "sem eira nem beira", que significa destituído de tudo, numa alusão de como as eiras eram centrais na sua vivência.
‘Fronteiras’, portanto, como território de identidades múltiplas, do qual muitas vezes a linha divisória oficial de separação entre os espaços não corresponde à realidade mestiça e misturada dos que habitam esses locais.