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domingo, 31 de julho de 2011

Os Ninguens - Eduardo Galeano

As pulgas sonham em comprar um cão, e os ninguéns com deixar a pobreza, que em algum dia mágico de sorte chova a boa sorte a cântaros; mas a boa sorte não chova ontem, nem hoje, nem amanhã, nem nunca, nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte , por mais que os ninguéns a chamem e mesmo que a mão esquerda coce, ou se levantem com o pé direito, ou comecem o ano mudando de vassoura.

Os ninguéns: os filhos de ninguém, os dono de nada.
Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:Que não são embora sejam.
Que não falam idiomas, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam supertições.
Que não fazem arte, fazem artesanato.
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
Que não tem cultura, têm folclore.
Que não têm cara, têm braços.
Que não têm nome, têm número.
Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.


Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Supondo que são crianças

Supondo que são crianças
Supondo que caem
Supondo que adoecem
Supondo que ano passado morreu um menino saharaui no mar
Supondo que tudo pode acontecer
Supondo que estão longe de casa
Supondo que sentem falta da mãe
Supondo que sentem falta do pai
Supondo que sentem falta
Supondo que Nana não acorda
Supondo que Nana tem 7 anos
Supondo que tem 39,7 de febre
Supondo que treme
Supondo que começa um convulsão
Supondo que tem uma infecção na gengiva séria
Supondo que se sente só
Supondo que está com medo
Supondo que eu não sou mãe
Supondo que eu não médica
Supondo que não sou enfermeira
Supondo que esqueço tudo e faço
Supondo que coloco toalha fria no corpo, no rosto
Supondo um ducha fria
Supondo que ano passado morreu um menino
Supondo que sou responsável por eles
Supondo que estou desesperada
Supondo que são 2h da manhã
Supondo que a febre continua 39
Supondo que supositório
Supondo que não sei por isso
Supondo que olho pra ela e a bunda olha pra mim
Supondo que são 4h da manhã
Supondo que a febre agora é 38
Supondo que penso em pipoca e mel
Supondo que não sei rezar
Supondo que canto em volta da cama
Supondo que espero Omulu
Supondo que toca o telefone
Supondo que são 6h30
Supondo que a febre agora é 37
Supondo que me acalmo
Supondo que penso em como é árdua a vida dos pais
Supondo o sol que bate forte na janela
Supondo que esqueço tudo o que fazia
Supondo que pela primeira vez encontrei um outro
Supondo que assim somos.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Histérica Erika

Meus pensamentos são confusos, eu sou confusa, diversa, estranha.
Encontros. Quem explica? O impulso de vida, quem explica?

Carta ao Norby

Estou tomada de vida, não de saudade, de ambiguidades q é viver, te escrevo agora com a certeza de uma parceria que tem frutos que sabe-se lá quando começou, mas cria e recria pensamentos:

"É preciso repensar a pesquisa sempre.
Preciso relembrar que não falo apenas de um povo, que fala do bicho homem e das relações que esse bicho aprendeu a fazer com o mundo. Essa é a dramaturgia primeira, que deve haver em Front(eiras).

O desejo de dominação, de uma verdade de um povo sobre o outro acontece desde sempre.
Vivemos, sabemos das grandes navegações e das colonizações na América e na Africa. As grandes ditaduras e todos os ismos que surgiram delas: Nazismo, Fascismo, Getulismo, assim vai...
Mas, esquecemos que as dominações acontecem também no âmbito particular, nas relações de amizade, familiares, nas imposições de um pensamento e o isolamento ou diminuição do desejo do outro.

De desejar sobrevive o homem,
De desejar padece o homem.

Desejamos a vida, mas desejar a vida é também desejar a morte, é incluir nela a possibilidade do não, do finito.
Não nos ensinaram a crescer e a aceitar o não.

A negação do fim, ou da possibilidade de transformações criam filhos do cruel capitalismo, que acreditam no poder de compra de tudo.
Compramos nossa felicidade junto com um saquinho de açúcar.
Compramos nosso poder no liquido negro do Petróleo.

Enquanto isso, de outro lado uma porcentagem grande da população mundial espera pelo Salvador, aceitando essas relações distorcidas, acreditando que dia alguém fará algo para colocar um fim nesse jogo esquisito, nesse Banco Imobiliario nada criativo ou gostoso de jogar.

O Povo Saharaui acredita na independência, no retorno a terra desejada, em poder ver o sol brilhar novamente de sua pátria. Pisar o chão que um dia já foi seu, há muito tempo atrás, antes dos espanhóis.

Penso no Brasil, nos primeiros habitantes, nos indígenas, que não tiveram forças pra sobreviver aos portugueses, às suas armas mortais: de fogo ou de influenza.
Penso em mim, formada nesse solo brasileiro, que gerou essa mistura maluca que somos nós os brasileiros, filhos de tantos povos juntos, reinventamos a história, nem portugueses, nem italianos, nem africanos, nem espanhóis, nem indígenas, nem alemães, nem nada, mas tudo misturado num só caldeirão chamado Brasil.
Penso nos brasileiros e no pouco que conheço de suas histórias... como chamar de meu o território que nem conheço do Amapá, que nunca andei? Sou tão estrangeira na Amazônia ou no Pantanal quanto aqui.

Sou estrangeira porque não me reconheço em nenhum lugar?
Estou sempre na fronteira de um mundo inventado, eu invento histórias pra fazer a realidade mais ou menos cruel, o meu ponto de vista é sempre uma farsa, um novo enredo, um novo recomeço pra um novo espetáculo.

A dramaturgia em Front(eiras), criemos algumas mais.... criemos pra não criarem em nós o câncer da destruição.
Que a nossa destruição seja ficcional, que não passe de 1h.
Que o fim seja sempre um recomeço.

Pra onde eu desejo regressar? Qual é a terra que eu devo regressar, com que olhos? Com que amor?
Com que ventre?
A minha angustia, é uma angustia de vida.
É uma angustia de morte.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Silêncio

As vezes, o silêncio é o melhor presente que alguém pode te dar.
Caminhamos juntas, sem trocar nenhuma palavra.
Pés no mar, cabeça .... sabe-se lá aonde: Brasil, Saharaui, em alguéns que não podemos ver, mas que existem, mas que estão, mas que são.
A busca de um reconhecimento, de um território, de uma ação.
Sobre nossos olhos somos grandes, somos felizes, somos nós.
Sobre nossos olhos somos saudade, somos ausência, mas somos.
Seguimos, no silêncio preenchido de cumplicidade...
Somos cumplices de tudo o que nos falta.


domingo, 24 de julho de 2011

Pé na areia, cabeça na nuvem


Nunca somos verdadeiramente nós mesmos pra poder de verdade encontrar o outro.
Sempre estamos em algum lugar que não é aqui... A mente sempre vaga um pouco.
Como saber aquilo que se passa?
Como entender o medo que temos de tudo o que é diferente, ou talvez de tudo o que seja exatamente igual a nós?
Não sei se suporto um outro "eu".
Quando formos embora daqui o que encontraremos? Quem encontraremos?
Justo ou não, eu me sinto muito só, mas ao mesmo tempo tão junta, tão repleta, tão cheia de pensamentos novos.
Eu estou aqui, minha cabeça lá... Tudo não passa de uma grande brincadeira, de uma ilusão?
O que realidade?
Quem mente?
Eu? Você? Ou nós?
O que estamos querendo esquecer?

Talvez o cansaço abra espaço para o oásis, ou pros nossos demônios.
O que vim buscar, não sei, mas encontrei minha fragilidade: Eu menina, eu Maria Chorona.
Eu aqui....
Relogio no tic tac, esperando... um algo que não vem, porque talvez não exista.


A primeira visão do mar!!!

Enfim, no mar!!! 
Um novo grupo de crianças, agora são 6 bimbis pra eu dividir com outros 2 adultos, ficou fácil!!

Claro, fez 32 graus toda a semana, chegamos na praia com 16 graus e muita chuva!!
Mas tudo bem, não tirou deles o gosto de ver o mar pela primeira vez!!

Tomados pelos braços da Yemanjá Italiana, la Mama, não sabiam o que fazer com o monstro "Onda". 
Dessa vez, diferente da primeira visão da chuva, foi tudo solene, como uma oração, vai ver eu também estava solene, com saudades dos braços dela.

Estamos novamente nos conhecendo, novas dificuldades, novos ares, novos olhares, e um téco de saudades...




quarta-feira, 20 de julho de 2011

Completa

Olhei para seus olhos e ví um oásis.
Na sua pele seca de deserto, um cheiro de carinho.
No seu cabelo, os bichos que não conhecemos: um camelo e uma cabra.
Não há espaço para bichos do mar ou um caramujo, mas há espaço pra fazer do nada uma diversão.

Seu pensamento é areia, sua casa é tecido e tem nome Jaima!
Construídas sobre dunas flutuantes que viajam no tempo...
Um tempo remoto não conhecemos da televisão.

Andam por aí procurando o que já têm!
Encontram tudo que talvez não precisam, mas levam, fazem questão de levar.
O ontem não se fará amanhã, o amanhã não será igual ao ontem.

Na bagagem vai Adidas e Havaianas.
Meu doutorado é mais intenso que academia.

Ela está no meu coração, no meu ventre, tive vontade de chamá-la de minha filha!

Uma oração de quem não sabe rezar

Ao Sr. Universo,

Que possamos trocar os mísseis por arminhas de água na beira da piscina,
Que não tenhamos olhos pra ver diferenças que nos separam, mas sim diferenças que nos completam,
Que saibamos mais ouvir que falar,
Que saibamos mais olhar que gritar,
Que tenhamos paciência de ver a semente ser fecundada e esperarmos a hora justa da colheita,
Que aprendamos a competir apenas com nossa vaidade e preconceito,
Que as próximas gerações vejam apenas guerras de travesseiros,
Que saibamos envelhecer criança, que a inocência permaneça um pouco,
Que a razão nos falte quando chegar a chuva (que todo banho de chuva seja especial),
Que possamos parar só pra ver uma formiga carregando uma folha verde.

( E sim, sou piegas!)

terça-feira, 19 de julho de 2011

Choveu!!!

Pode não parecer nada pra gente, mas pros meninos do deserto é tudo de novo:
E hoje CHOVEU!!
Era a primeira vez que Mohamed, 7 anos, via a chuva, água caindo do céu, como um milagre.

Aziza não se aguentou pulou no meu cólo, saímos na rua, pra deixar lavar, que a gente precisa de banho às vezes, principalmente banho de felicidade.
Que felicidade aquilo.

Voltando pra casa Jalifa deixou a janela do carro aberto, mãos pra fora e cantava, cantou a viagem toda sentindo as gotas caírem na sua mão!!

Isso foi fantástico!!!

domingo, 17 de julho de 2011

Mãe de 9

É como brincar de casinha, por 2 meses: leva no clube, leva no banheiro, leva no médico, no dentista, brinca um tanto, joga futebol, tudo sem entender uma palavra.
É como voltar a ser criança, brincar de novo e nenhum adulto entender o que você fala, mas te olham e acham engraçado.

A diferença é que agora quem acha engraçado são as crianças.

Ontem, a presidenta da Associação Jaima Saharaui disse que eu era muito ativa. Vai saber, salvem os Erês que nos salvam.

Salve Yansã, a mãe de 9!!

PS: estou vendo com novos olhos os muçulmanos, com muito carinho, com muito respeito pelas pausas que fazemos para as suas orações.



Pensando...



Muitas pessoas me perguntaram porque estou aqui, se no Brasil precisam de pessoas que ajudem as crianças, afinal há tantos problemas no Brasil!!

Eu não consigo deixar de citar o André Abujamra: “O mundo de dentro da gente é maior que o mundo de fora da gente. O mundo de dentro da gente é um espaço sideral!”

Enquanto pensarmos somente em “Meu pais”, meu território, meu lugar privado, estaremos dando vazão a pensamentos fartos como esse da construção de um muro.

Mas, o pior muro é ainda aquele que não se mostra. Quando prevalece a distância, o desconhecimento, quando o outro é uma ameaça e é assim o tempo todo, a forma como o capitalismo se colocou, no micro ou no macro, temos medo de assalto, temos medo do que será feito do nosso petróleo, temos medo de não termos identidade, identidade privada, não a identidade coletiva de que somos viventes do mundo, do planeta Terra, mas isso não basta, é preciso possuir, é preciso ter. É preciso consumir.
Consumismo a nós mesmos, nosso próprio ventre aberto, de onde perdemos a memória de quem somos.

Eu não tenho nada que possa mudar a vida dessas pessoas, não sou influente, não tenho grana, não tenho nada além da vontade de fazer um teatro nas margens, nas Front(eiras). 

Escrevo isso, não para parecer arrogante, ou me fazer de intelectualóide, mas a liberdade dessas crianças, a criatividade e a sabedoria me ensinam muito mais do que eu a elas.
Não vim ajudar ninguém, vim me buscar na verdade.
Quem sabe um dia eu me encontro.

Depois do André, agora deixo um pouco do meu poeta preferido, pra terminar essa postagem, Manoel de Barros:




O apanhador de desperdícios
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios

Dentista

Como fazer-se entender por uma menina saharaui, que aquilo que estava a sua frente era um elevador?

A porta fechou, ela completamente assustada, olhos regalados, a porta abriu, era outro andar, Aziza me acenava que não, que aquela não era o lugar que ela estava antes, o que era aquilo? 

O que se passa na cabeça dela? Como explicar o que era?? Uma máquina do tempo?

Fazemos desenhos? Mostro a janela?????

Ela pede a mãe, o que eu faço? mostro uma boneca que estava na sala de espera da dentista. 
Faço nada.
Coisa que só se aprende com uma criança: "A tristeza e o medo duram o tempo de uma distração"



Coisas que acontecem a distância

Tenho uma aula incrível com os Saharauis de democracia, de amor e respeito ao próximo, que nunca havia visto!! Quando não se tem nada, tudo é criativo e tudo se refaz.

A experiencia é inexplicável.

Estou na mesma casa que o Deid, um militar da Frente Polisário e educador aqui. Ele é carinhoso com as crianças ao mesmo tempo que sabe colocar limites sem dar um grito, uma serenidade incrivel!! Eles não bebem nada alcoolico e nem fumam, somente chá, o tempo todo.

Deid me explicou: "Depois da invasão Marroquina, toda sua família fugiu para a Argélia, que deu pra eles um território, vizinho a Tindoulf, para que pudessem se abrigar. Construíram dentro do Exílio, mesmo que nas tendas, todas as cidades importantes que haviam em seu país, agora um território ocupado pelo Marrocos: El Aiun, 27 Febrero, Auserd, Smara, Dasla, uma forma de manterem sua nacionalidade mesmo que no exílio."

O muro, completamente minado impede que eles retornem à sua terra natal. A cada 2 km do muro existe uma guarita militar marroquina fortemente armada. 

Tudo isso por que em Buskraa, existe uma grande reserva de fosfato.
 


Marroquinos e os Saharauis na Itália:
Reggio Emilia: fizémos um pic nic no parque e enquanto o Lucha fazia um chá, um homem bêbado, com um vinho na mão se aproximou e começou  a insultá-lo,com gestos brutos, como se tivesse uma arma na mão, nós tivemos que pegar as coisas e sair. 

Viagem  à Bologna: seguimos para uma recepção do governo com as crianças, eu era responsável por levar 3 meninos comigo de 7 e 8 anos, entramos no trem e junto entraram 2 homens, marroquinos e começaram a falar coisas em árabe pros meninos, algo como eu cuspo em vcs, precisei mudar do vagão com as crianças. Nessa hora, os olhinhos do Edmud era tão singelo e ao mesmo tempo tão tenso que eu quase tive um treco, vontade de meter a mão no cara, mas uma coisa os adultos saharauis me ensinam, serenidade para resolver, não podemos fazer nada aqui, somos o que somos.

sábado, 16 de julho de 2011

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Chá Saharaui

O primeiro chá é amargo como a vida,
O segundo chá é doce como o amor,
O terceiro chá é suave como a morte!
(Ritual do chá Saharaui no Centro Polesano, Badia Polesine, depois do Exilius)



sábado, 9 de julho de 2011

No festival dei popoli

Exílius, hoje, 09 de julho de 2011, sábado, às 21h15:



Festival Dei Popoli " La Chimica de la parole", no Centro de Documentazione Polesano.


Paura

Sim, medo, aceito acima de tudo que tenho medo.
Paura do desconhecido.
Paura da solidão.

Cuidado com o que se quer viver, a gente nunca tem certeza se damos conta de tudo aquilo que desejamos.

Ganhei um colar de presente, simplesmente colocado no meu pescoço, sem nenhum olá, aperto de mão, cumprimento, no mais perfeito silêncio desordenado. Aceitei. No mesmo instante: medo! Quem um dia explicará o medo?

Especialmente, vivendo numa perfeita Babel: 3 línguas (árabe, italiano e português), 3 religiões (muçulmano, católico e umbandista sem vergonha - como me denomino, já que creio, mas sou tão pouco praticante), 3 costumes tão diferentes que não sei como encontraremos a forma de nos conhecermos, de aprendermos como trabalhar juntos.

Sentir-se estrangeira é algo diverso no coração, por um lado, estou aqui por que escolhi e é bom ser uma pessoa sem antecedentes, sem idéias prévias sobre nada, mas por outro lado cansa um tanto, nos faz mais atentas sobre todos os movimentos, os sentido são alterados. Constante estado "pantera".

Afinal, o que pátria? Aonde está nossa pátria? Quem pode dizer a qual lugar pertencemos, senão nós mesmos? 

No fundo o único lugar que podemos habitar é o nosso próprio corpo, que às vezes deixamos um outro corpo visitar, mas é o único lugar aonde o pensamento é livre, ou ao menos deveria ser.

Em casa não falamos em liberdade, mas, quando se é estrangeiro se pensa em liberdade, em livre acesso.

Os kms extras trazem saudades mesmo antes das horas extras passadas longe de sua terra. Aqui sou tão brasileira, tão mais crente, tão mais umbandista que quando estou no Brasil.