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segunda-feira, 19 de março de 2012

Cheia de clichês

Acordei cheia de clichês.

Com vontade de escrever depois de tanto tempo!

Quando digo que o Exílius às vezes de exila de mim, estou mentindo.
Continuo exilada em algum lugar aqui dentro, bem dentro, buscando respostas para coisas que não têm respostas, simplesmente por que nossa evolução não nos permite acreditar que pode ser diferente ou pelo menos visualizar algo diferente.

Admiramos lideres distantes, admiramos o dinheiro, mas não admiramos o simbólico, o pequeno. Acreditamos nas grandes potencias mundias, no poder Norte Americanóide, mas não acreditamos em nossa própria mudança, interna, pequena e, também, não deixamos o outro mudar quando damos a ele um título, um caráter, um nome. Tornamos o outro e a nós mesmos seres imutáveis, classificamos e pronto. Como se não fossemos muitas coisas dentro de nós. Como se não fossemos múltiplos, complexos. Fixamos o mundo e a nós mesmos.

Só não compreendo o que veio primeiro: se a fixação do mundo interno ou do mundo externo.

No processo do novo espetáculo Circo K, esse pensamento tem ficado aflorado: talvez a organicidade de uma personagem seja justamente sua multiplicidade, as facetas escondidas. Por que na vida somos assim: amorosos e ciumentos; corajosos e covardes; compreensíveis e intolerantes... tudo depende do fato, do instante, das pessoas que estão ao redor.

Por que então, é tão difícil no cotidiano aceitarmos o diferente? O amor diferente, a decisão diferente?
Por que acreditamos no modelinho de pessoas bem-sucedidas nos seus carrões importados e nas suas casas propaganda de margarina? Ou, de pessoas bem humoradas, fortes? Por que é feio ser fraco?

Por que criamos o mundo do perigo?
O mundo muçulmano, segundo a visão de muitos ocidentais é perigoso, assim como já foram os russos, assim como em breve pode ser o Brasil, já que andam dizendo por aí que estamos nos tornando potência: o BRIC!

O mendigo, morador de rua, sujo é muito perigoso. O usuário de droga é criminoso. O portador de deficiências é incompleto, é ineficiente. O negro não pode possuir cargo alto, de reconhecimento, ou pensamento expressivo diferente da maioria, porque normalmente não tem escolaridade pra isso (exceto se for o presidente dos EUA, mas ele tem alma branca e consciência politica elevada – juro que ouvi isso!). É melhor e mais seguro as mulheres não receberem mais que os homens, é vergonhoso para eles.

Assim continuo no meu clichê de menina nervosinha e revolucionária da classe média, branquela querendo acreditar numa possível visão da diferença.

É acho que eu acordei cheia de clichês.

Na verdade, eu tinha acordado com vontade de fazer uma declaração de amor, mas eu não consegui.
Ia escrever um texto pros meus irmãos.

Em especial, nesse momento da vida, pro Mano Chester, pra contar que o admiro pacas e que to louca de amores pela coragem dele, que no seu maior estado de menino grande, ele ensina e faz a gente acreditar na vida.
Nas passagens... nos rituais, nos instantes!
Tenho mais simpatia pela coragem dele de aceitar o amor incondicional, de florear os meus olhos com carinho, do que qualquer rapazão rico por aí. O mano me ensina a paciência, aquela mesma que eu esqueci. É, eu esqueci de passar na fila da “Paciência” quando estava pra nascer e vou ter que aprender aqui, na labuta aonde ela fica.
Mas, ele não, parece que ele entendeu que tudo se encaixa, que no lento andar da carruagem as abóboras se ajeitam. Sem medo, ele faz, no silêncio que só ele consegue ter (até mesmo quando era  criança e fazia coisa errada!).
Eu me sinto criança ao seu lado. Admirando o seu existir e tentando aprender!

Do outro mano, fica a lição de liberdade, de desapego, que eu, na função de irmã mais velha também não consegui!!

Vamos seguindo no nosso universo privado tentando religar os pontos, na esperança, quem sabe, de sabermos que somos iguais.

“O mundo de dentro da gente é maior que o mundo de fora da gente!” (ABU)