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domingo, 17 de julho de 2011

Pensando...



Muitas pessoas me perguntaram porque estou aqui, se no Brasil precisam de pessoas que ajudem as crianças, afinal há tantos problemas no Brasil!!

Eu não consigo deixar de citar o André Abujamra: “O mundo de dentro da gente é maior que o mundo de fora da gente. O mundo de dentro da gente é um espaço sideral!”

Enquanto pensarmos somente em “Meu pais”, meu território, meu lugar privado, estaremos dando vazão a pensamentos fartos como esse da construção de um muro.

Mas, o pior muro é ainda aquele que não se mostra. Quando prevalece a distância, o desconhecimento, quando o outro é uma ameaça e é assim o tempo todo, a forma como o capitalismo se colocou, no micro ou no macro, temos medo de assalto, temos medo do que será feito do nosso petróleo, temos medo de não termos identidade, identidade privada, não a identidade coletiva de que somos viventes do mundo, do planeta Terra, mas isso não basta, é preciso possuir, é preciso ter. É preciso consumir.
Consumismo a nós mesmos, nosso próprio ventre aberto, de onde perdemos a memória de quem somos.

Eu não tenho nada que possa mudar a vida dessas pessoas, não sou influente, não tenho grana, não tenho nada além da vontade de fazer um teatro nas margens, nas Front(eiras). 

Escrevo isso, não para parecer arrogante, ou me fazer de intelectualóide, mas a liberdade dessas crianças, a criatividade e a sabedoria me ensinam muito mais do que eu a elas.
Não vim ajudar ninguém, vim me buscar na verdade.
Quem sabe um dia eu me encontro.

Depois do André, agora deixo um pouco do meu poeta preferido, pra terminar essa postagem, Manoel de Barros:




O apanhador de desperdícios
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios

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