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quinta-feira, 28 de julho de 2011

Carta ao Norby

Estou tomada de vida, não de saudade, de ambiguidades q é viver, te escrevo agora com a certeza de uma parceria que tem frutos que sabe-se lá quando começou, mas cria e recria pensamentos:

"É preciso repensar a pesquisa sempre.
Preciso relembrar que não falo apenas de um povo, que fala do bicho homem e das relações que esse bicho aprendeu a fazer com o mundo. Essa é a dramaturgia primeira, que deve haver em Front(eiras).

O desejo de dominação, de uma verdade de um povo sobre o outro acontece desde sempre.
Vivemos, sabemos das grandes navegações e das colonizações na América e na Africa. As grandes ditaduras e todos os ismos que surgiram delas: Nazismo, Fascismo, Getulismo, assim vai...
Mas, esquecemos que as dominações acontecem também no âmbito particular, nas relações de amizade, familiares, nas imposições de um pensamento e o isolamento ou diminuição do desejo do outro.

De desejar sobrevive o homem,
De desejar padece o homem.

Desejamos a vida, mas desejar a vida é também desejar a morte, é incluir nela a possibilidade do não, do finito.
Não nos ensinaram a crescer e a aceitar o não.

A negação do fim, ou da possibilidade de transformações criam filhos do cruel capitalismo, que acreditam no poder de compra de tudo.
Compramos nossa felicidade junto com um saquinho de açúcar.
Compramos nosso poder no liquido negro do Petróleo.

Enquanto isso, de outro lado uma porcentagem grande da população mundial espera pelo Salvador, aceitando essas relações distorcidas, acreditando que dia alguém fará algo para colocar um fim nesse jogo esquisito, nesse Banco Imobiliario nada criativo ou gostoso de jogar.

O Povo Saharaui acredita na independência, no retorno a terra desejada, em poder ver o sol brilhar novamente de sua pátria. Pisar o chão que um dia já foi seu, há muito tempo atrás, antes dos espanhóis.

Penso no Brasil, nos primeiros habitantes, nos indígenas, que não tiveram forças pra sobreviver aos portugueses, às suas armas mortais: de fogo ou de influenza.
Penso em mim, formada nesse solo brasileiro, que gerou essa mistura maluca que somos nós os brasileiros, filhos de tantos povos juntos, reinventamos a história, nem portugueses, nem italianos, nem africanos, nem espanhóis, nem indígenas, nem alemães, nem nada, mas tudo misturado num só caldeirão chamado Brasil.
Penso nos brasileiros e no pouco que conheço de suas histórias... como chamar de meu o território que nem conheço do Amapá, que nunca andei? Sou tão estrangeira na Amazônia ou no Pantanal quanto aqui.

Sou estrangeira porque não me reconheço em nenhum lugar?
Estou sempre na fronteira de um mundo inventado, eu invento histórias pra fazer a realidade mais ou menos cruel, o meu ponto de vista é sempre uma farsa, um novo enredo, um novo recomeço pra um novo espetáculo.

A dramaturgia em Front(eiras), criemos algumas mais.... criemos pra não criarem em nós o câncer da destruição.
Que a nossa destruição seja ficcional, que não passe de 1h.
Que o fim seja sempre um recomeço.

Pra onde eu desejo regressar? Qual é a terra que eu devo regressar, com que olhos? Com que amor?
Com que ventre?
A minha angustia, é uma angustia de vida.
É uma angustia de morte.

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