Páginas

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Outros que nos inspiram!!

“Nada se fala do Muro do Marrocos, que há 20 anos perpetua a ocupação marroquina do Saara ocidental. Este muro, minado de ponta a ponta e de ponta a ponta vigiado por milhares de soldados, mede 60 vezes mais do que o Muro de Berlim. (...)Por que será que os olhos se negam a ver o que está diante deles? Será por serem os saarauis uma moeda de troca, oferecida por empresas e países que compram do Marrocos o que o Marrocos vende, embora não seja seu? Há dois anos, Javier Corcuera entrevistou, em um hospital de Bagdá, uma vítima dos bombardeios contra o Iraque. Uma bomba havia destroçado um de seus braços. E ela, que tinha oito anos de idade e havia sofrido 11 cirurgias, disse: "Tomara não tivéssemos petróleo".Talvez o povo do Saara seja culpado porque em seu longo litoral reside o maior tesouro pesqueiro do Oceano Atlântico e porque sob a imensidade de areia, que parece tão vazia, exista a maior reserva mundial de fosfatos e, talvez, também de petróleo, gás e urânio.No Alcorão poderia estar escrito, embora não esteja, esta profecia: as riquezas naturais serão a maldição das pessoas.Os acampamentos de refugiados, ao sul da Argélia, estão no mais deserto dos desertos. É um vastíssimo nada, cercado de nada, onde só crescem as pedras. E mesmo assim, nessa aridez, e nas zonas liberadas, que não são muito melhores, os saarauis foram capazes de criar a sociedade mais aberta, e a menos machista, do mundo muçulmano. Este milagre dos saarauis, que são muito pobres e muito poucos, não só se explica por sua firme vontade de serem livres, algo que sobra nesses lugares onde tudo falta: também se explica, em grande parte, pela solidariedade internacional.(...) Os saarauis esperam. Estão condenados às penas da angústia perpétua e da perpétua nostalgia. Os acampamentos de refugiados levam os nomes de suas cidades seqüestradas, seus perdidos lugares de encontro, suas querências: El Aaiún, Smara...Eles se chamam filhos das nuvens, porque desde sempre perseguem a chuva. Há mais de 30 anos perseguem, também, a Justiça, que no mundo de nosso tempo parece mais esquiva do que a água no deserto”. (Eduardo Galeano)

Nenhum comentário:

Postar um comentário