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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Um número entre tantos

Acabo de ver "Só não tem quem não quer", curta dirigido por Hidalgo Romero, do qual tive o prazer de acompanhar um pouquinho antes de partir pra Itália em agosto de 2007.

Engraçado, como me tocou ouvir o Hidalgo falando durante o making off.
Claro, tudo nesse vida tem um tempo de maturação para o acontecimento.
Amadurecer para acontecer.
O filme dele tem o mesmo tempo do Exílius....

Vê-lo me faz lembrar e sentir o frescor de toda a esperança, de todo desejo que surgiu em 2007, de conhecer, de perceber e de perseguir o tema sobre os Saharauis. Eu nem sabia aonde habitavam essas pessoas, que vida tinham, como se comportavam, que crença, por que viviam como vivem.
Eu apenas havia conhecido uma garota, de 8 anos, num albergue qualquer no norte da Italia e me apaixonado por seus olhos e por nossa falta de comunicação no nosso total entender. Eu nunca mais ví essa garota, como provavelmente nunca mais verei o Amudi, o Mohamed, a Aziza, a Aicha, nenhum dos meus amigos marrons de cabelos lisos... nenhum dos militares que me ensinaram a agir com amor acima de tudo, amor ao companheiro de guerra e de cotidiano, amor as crianças que serão o futuro do planeta que vivemos e amor a Allah (seja esse quem for!).

Acreditar no fazer artístico como ação civil é o que me impulsiona hoje a experimentar, a degustar um fazer lento, um fazer que vem do pequeno gesto (como diria Veronica Fabrini).
O termo civil pro teatro que estou tateando hoje surgiu na Caulônia, durante o Festival de Teatro Civil, quando apresentei o Exilius - versão 1. Pareceu-me nesse momento mais honesto e mais cabível com meus impulsos, já que não sou filiada a nenhum partido e também não sei discorrer com profundidade sobre ações politicas do passado ou do presente, mas civil serviu-me, um teatro por um ideal, retratar no fazer um instante de nossa sociedade, sejam ela os saharaui, os assentados, os ninguéns de nossa atualizada...

Recortar suas histórias para falar de angústias que são "caras", que estão na minha face e que reconheço como parte de mim mesma.

Será mesmo que "só não tem quem não quer?"
E o que eu, que sou ninguém-alguém quero? Afinal, ao menos um número de Rg ou de passaporte eu sou, já os refugiados do mundo nem isso são verdadeiramente... Tenho um número que me constata como alguém dentre os 7 bilhões... Dentre 7 bilhões... Será que realmente sou? Qual a importância de ser alguém entre tantos? Que diferença faz no querer de tantos?

Mas, se desistirmos agora, alguém ninguém será por nós?

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